Introdução
O Devaneio Excessivo (MD), ou Maladaptive Daydreaming, é um fenômeno psicológico caracterizado por fantasias extremamente vívidas e imersivas que se tornam um refúgio complexo e, por vezes, problemático para o indivíduo [1]. Diferente do devaneio comum, que é uma divagação mental passageira, o MD envolve a construção de mundos imaginários tão ricos e detalhados que a linha entre a realidade e a fantasia pode se tornar tênue para quem o vivencia. Este artigo explora a intensidade desses mundos internos, como eles são construídos, suas características e o impacto de sua imersão na vida do sonhador excessivo.
A Construção de Mundos Imaginários Vívidos
Para o indivíduo com Devaneio Excessivo, a fantasia não é apenas um pensamento passageiro; é uma experiência sensorial e emocional completa. Esses mundos imaginários são frequentemente descritos como universos paralelos, onde o sonhador é o criador, diretor e protagonista de narrativas contínuas e complexas [2].
Características dos Mundos de Fantasia no MD:
•Narrativas Elaboradas: As fantasias possuem enredos intrincados, com arcos de história que podem durar anos, semelhantes a séries de televisão ou romances. Há um desenvolvimento de personagens, conflitos, resoluções e até mesmo reviravoltas [1, 3].
•Personagens Detalhados: Os mundos imaginários são povoados por personagens com personalidades, histórias de vida, aparências e relacionamentos bem definidos. O sonhador pode interagir com esses personagens, que muitas vezes servem como versões idealizadas de si mesmo ou de outros [2].
•Cenários Ricos em Detalhes: Os ambientes são descritos com uma riqueza de detalhes sensoriais – visuais, auditivos e até táteis. Cidades, paisagens naturais, casas e objetos são meticulosamente construídos na mente do sonhador, tornando o cenário quase palpável [1].
•Emoções Intensas: O sonhador excessivo experimenta as emoções dentro de suas fantasias com a mesma intensidade que experimentaria na vida real. Alegria, tristeza, raiva, amor e medo são vivenciados de forma profunda, o que pode ser um dos motivos para a busca compulsiva por esses estados [1].
•Continuidade e Consistência: Os mundos de fantasia mantêm uma lógica interna e consistência ao longo do tempo. As histórias e os personagens evoluem, e o sonhador retorna a eles como se estivesse retomando um livro ou um filme exatamente de onde parou [2].
Como a Fantasia se Torna Real para o Indivíduo
A imersão no Devaneio Excessivo é tão profunda que, para o indivíduo, a experiência pode se assemelhar a uma realidade alternativa. Embora a maioria dos sonhadores excessivos mantenha a consciência de que suas fantasias não são literalmente reais (diferenciando-se de condições psicóticas como a esquizofrenia), a vivacidade e a intensidade emocional tornam esses mundos extremamente convincentes e atraentes [3].
Fatores que Contribuem para a Sensação de Realidade:
•Estímulos Sensoriais: Muitas vezes, o MD é desencadeado ou aprimorado por estímulos externos, como música. A música pode servir como trilha sonora para as fantasias, intensificando a experiência e tornando-a mais imersiva [1].
•Movimentos Físicos: Acompanhar as fantasias com movimentos repetitivos (andar, balançar, gesticular) ou expressões faciais e vocalizações pode ajudar o sonhador a se sentir mais conectado ao seu mundo interno, como se estivesse atuando em sua própria história [1].
•Mecanismo de Fuga: Para muitos, o mundo de fantasia oferece um refúgio seguro e controlado de uma realidade que pode ser estressante, dolorosa ou insatisfatória. Nesse sentido, a fantasia “funciona” como uma solução temporária, reforçando o comportamento [4].
•Satisfação de Necessidades: Nos mundos imaginários, o sonhador pode experimentar sucesso, amor, reconhecimento ou aventura que faltam em sua vida real. Essa satisfação de necessidades não atendidas torna a fantasia extremamente gratificante e difícil de abandonar [4].
O Impacto da Imersão Excessiva
Embora a capacidade de criar mundos internos ricos possa parecer uma bênção, a imersão excessiva no MD pode ter consequências negativas significativas. O tempo e a energia dedicados às fantasias podem levar à negligência de responsabilidades, ao isolamento social e a sentimentos de culpa e vergonha [1, 4].
Consequências da Imersão:
•Dificuldade de Retorno à Realidade: Após longos períodos de devaneio, pode ser difícil para o indivíduo “desligar” e se reconectar com o mundo real, sentindo-se desorientado ou irritado pela interrupção.
•Interferência na Vida Diária: A compulsão de retornar às fantasias pode prejudicar o desempenho acadêmico, profissional e a manutenção de relacionamentos, pois a prioridade é dada ao mundo interno [1].
•Ciclo Vicioso: A busca por refúgio na fantasia pode se tornar um ciclo vicioso: quanto mais a realidade é insatisfatória, mais o indivíduo se refugia no devaneio, e quanto mais devaneia, mais a realidade se deteriora [4].
Conclusão
A intensidade dos mundos imaginários no Devaneio Excessivo é uma característica central que o distingue do devaneio normal. Para o sonhador excessivo, a fantasia não é apenas uma distração, mas uma realidade alternativa profundamente envolvente e emocionalmente gratificante. Compreender a natureza e a profundidade desses mundos é essencial para reconhecer o MD e para desenvolver estratégias que ajudem os indivíduos a encontrar um equilíbrio saudável entre a rica vida interna e as demandas do mundo real. O objetivo não é eliminar a criatividade ou a imaginação, mas sim gerenciar a compulsão e o impacto negativo, permitindo que a pessoa viva plenamente em ambas as realidades.
Referências
[1] Tua Saúde. (2024, 19 de fevereiro). Devaneio excessivo: o que é, sintomas, causas e tratamento. Disponível em: https://www.tuasaude.com/devaneio-excessivo/
[2] Reddit. (2024, 23 de setembro). What is your Main Maladaptive Daydreming Universe?. Disponível em: https://www.reddit.com/r/MaladaptiveDreaming/comments/1fc6m0v/what_is_your_main_maladaptive_daydreming_universe/
[3] Psicólogo.com.br. (2020, 1 de maio). Devaneio Excessivo. Disponível em: https://www.psicologo.com.br/blog/devaneio-excessivo/
[4] Psyche.co. (2024, 4 de janeiro). Maladaptive daydreaming made me feel trapped in my own mind. Disponível em: